Fogos de artifício e estrelas brilham no céu, uma bela noite para este fatídico evento. Ano novo, grande coisa, como se uma passagem de ano levasse todos meus problemas. Ha ha.
Como se para zombar de mim começou a nevar, excelente, me encolho mais no casaco e apresso a passo. Um fim, mas não o final, né? Abandono tantas coisas, mas não mais do que já perdi. Quando foi que eu comecei a chorar? Porra, agora tenho que parar. 20 minutos para sair.
Pare e recupero o fôlego, vamos lá. Fogo. Não, neve, frio. Quente. Queimaduras. Gritos. Isso é culpa minha.
-Para! - Gritei na avenida silenciosa na cidade fantasma. Ótimo. - Fazer o que, respira, inspira. - Água. Ambulância. Hospital. Não, estação de trem, isso sim. Fuga. Isso, fuga. Finalmente chego à estação, incrivelmente estou inteira.
Paro novamente para checar o horário e a plataforma. Embarque às 23:00, Plataforma 13, Saída às 23:20. PROIBIDO BEBIDAS ALCOÓLICAS NO TREM. Positivo senhor comandante. 9 minutos para o embarque. Pânico.
-Vai estragar isso também? Sua última chance, melhor correr - Estou falando sozinha novamente, excelente. Ao menos chego na hora de embarcar e vejo que sou a única no meu vagão, talvez a única no trem. Espero que seja.
Retiro meu casaco assim que encontro minha poltrona e bato para remover a neve dele e do meu gorro. Assim que termino decido passear um pouco antes de sairmos.
-Outra pessoa? - Assustei com a nova voz e congelei como se o que eu estivesse fazendo fosse proibido. - Que legal, achei que eu fosse o único lunático a viajar durante o feriado.
-Qual feriado?
-Ano novo - Afirmou como se falasse com uma criança e me virei para falar com ele. - Não é óbvio? Aliás, é daqui a meia hora só.
-Bem, eu não o vejo como um feriado.
-Como não?
-A mudança de ano não muda nada além da data, não leva meus problemas, muito menos minhas memórias. - Ajustei o gorro na cabeça e puxei minha blusa de modo automático.
-Ano ruim, foi?
-Vida ruim, isso sim.
-Não diga assim, todos temos alguma memória boa na qual podemos nos segurar. - Memórias. Fogo. Gritos. Calor. Tentei conter minhas lágrimas, mas não deu muito certo. - Ei, por que chorar? Vamos, boas lembranças. Tente. - Assenti e tentei.
Essa pessoa na minha frente agia como se soubesse da minha história e realmente me convenceu a tentar. Memórias. Fogo. Não, boas, vamos. Risadas. Um jardim. Sol. Areia. Um abraço. Comecei a chorar mais ainda.
-Achei, achei - Uma nova memória, um abraço, um carinho que não recebia a certo tempo. Conforto. - Achei, achei.
-Shh, entendi, fico contente. Sabe, eu também tenho essa vontade de fugir, mas por muito tempo a conti com minhas memórias, até que uma garota me fez duvidar de tudo - E aí tudo fez sentido. O carinho, o conforto e o abraço, foi ele.
-Foi você - Tudo que ele fez foi assentir.
-Te salvar das chamas foi o que me fez duvidar de tudo. Você preferia ter morrido lá do que ser salva sem sua irmã, então você decidiu fugir, e eu também. - Já fazia certo tempo que estávamos abraçados e lentamente a contagem começou na TV do vagão.
-Obrigada - Sussurrei.
-Obrigado eu - Sussurrou em resposta antes de selarmos nosso lábios assim que tudo explodiu do lado de fora. Um novo ano com os mesmos antigos problemas, porém, com novas promessas.
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