-Vamos, Laurel, para o próximo compromisso.
-Qual é? - Depois de tantos, já me perdi.
-Agora vamos buscar o vestido e depois vamos ao salão. Pode cochilar se quiser, levaremos certo tempo até chegarmos à loja. - Não foi necessário repetir, pulei no banco de trás do carro e instantaneamente adormeci.
Novamente aquela cena, não sei porque me permiti dormir, sabendo que iria vê-la. Éramos crianças novamente, eu e ele, não era Laurel Blanka ou Henry Nigra, completo opostos, éramos felizes novamente, naquele lago.
-H, vamos nadar?
-L, você sabe que seu cabelo arma depois de nadar - Ele disse isso e pegou meus cachinhos negros na altura dos ombros e me encarou com seus olhos castanho-escuro - E sua pele é muito clara para pegar esse sol.
-Mas, H, estou com calor, vamooooos, por favorzinho? - Vi ele dar aquele sorriso que há anos não via sem ser nos sonhos e rir.
-Vamos, L, mas você trouxe biquíni?
-Nunca esqueceria, agora - Entreguei-o a toalha - Me esconda.
-Ai, L, só você mesmo - Mas mesmo assim, ele ergue a toalha e não lançou nenhum espiadinha. Nadamos por um bom tempo, até eu decidir me sentar e encará-lo, sem razão nenhuma, comecei a chorar e ele percebeu e se aproximou de mim, porém continuou na água.
-L, está tudo bem?
-Não, não, H, nada está bem.
-L, o que aconteceu? - Havia um vazio no meu peito, me forçando a arfar com aquela dor.
-Não sei, de repente senti que nada disso voltará, H, por favor, faça sumir esse vazio e essa dor! - ele saiu da lagoa e se sentou ao meu lado.
-L, eu prometo que isso nunca acontecerá - E ele me abraçou, e ficamos assim até eu parar de chorar, suas próximas palavras me marcariam durante toda minha vida.
Pude vê-lo abrir sua boca, mas as palavras que saíram dela não eram suas, eram dela.
-Laurel, chegamos ao salão, desça para sua... Laurel, o que aconteceu?! Seus olhos estão inchados, você não chorou novamente?
-E se eu tiver? Meus pais nem ligam, então não precisa fingir se importar. Vamos - Adentramos ao salão, e ela não ousava falar qualquer coisa. Ao me reconhecerem, todos já se organizaram e começaram a conversar.
-Então, Laurel, grande dia hoje, não? - Perguntou a manicure - Ah, vai querer o azul escuro de sempre?
-Pode fazer uma francesinha normal.
-E essa festa de hoje? O pé você também quer a francesinha? - Somente assenti para a pedicure quando senti mãos envolvendo meus cachos e começando a penteá-los.
-Oi, Linda, saudades. Tempão que você não vem! - Depois de todas começarem, começaram a fazer minha mão, meu pé e minha escova, passei a divagar, só retornei quando ela me chamou.
-Madame, Laurel? Aceita alguma coisa?
-Me vê um cappuccino, por favor?
-Mas, madame, sua mãe disse para você não ingerir cafeína...
-Estou pedindo um cappuccino, é tão difícil assim? - Pude ver que ela entendeu a mensagem e foi buscá-lo. Passei o resto do dia indo e voltando, sendo removida de meus pensamentos somente por ela.
-Madame, você está glamourosa, imagine quando colocar o vestido? - Ela tinha certa razão, minhas unhas se encontravam numa francesinha perfeita e o meu cabelo, que mesmo cacheado já era longo atingindo a metade das minhas costas, ao alisar passou a atingir minha cintura, como um mar negro.
Eu me encarava naquele espelho, com uma jeans antiga e uma blusa larga, ambas contrastando com o meu tom de pele pálido, e o meu corpo, que pode-se dizer que possui curvas, porém, meus olhos cinza estragavam tudo, sem o seu brilho e ainda um pouco inchados.
Saímos de lá e nos dirigimos diretamente à mansão. Corri para meu quarto, procurando um minuto para ficar somente eu e mais eu. Tive um curto tempo até as maquiadoras aparecerem, todas me bajulando igual ao salão.
Elas fizeram um bom trabalho, passando um batom claro, que ia bem com a minha pele, e uma sombra cinza, que ficou boa e combinou com os meus olhos e o meu cabelo. Depois tratei de colocar o vestido encomendado para a festa.
O vestido parecia de lantejoulas, começando prata e terminando azul escuro, ele ia até meus joelhos. Logo após coloquei os acessórios separados e o sapato. O sapato era cinza e com a sola vermelha e os meus acessórios consistiam em pulseira, brincos e anel todos com o simbolo do infinito.
Partimos para a festa e de relance pude ver, aquela moto que me seguia a uma distância segura, cumprindo parte de sua promessa, a parte de não partir. Chegamos à festa sem nenhum problema, pois o problema se encontrava lá dentro.
Foi só eu pisar lá e todos apareceram, uma com um vestido esvoaçante, outra com um cabelo falso, um fazendo cosplay e assim seguia a lista, porém aquela mulher de braços estendidos e um sorriso estampado no rosto era o foco de todos meus problemas.
-Laurel, querida, meus parabéns!
-Boa moite, Sra. Blanka, agradeço por dirigir sua atenção à mim hoje.
-Ah, Laurel, querida, pare de brincadeiras, me chame de mãe como você sempre faz - Ela puxou-me para mais perto e sussurrou de modo que deveria ter me ameaçado - É bom você não fazer nenhuma gracinha aqui, seu pai e eu tivemos que sair do trabalho para virmos aqui, agora sorria e cumpra seu papel.
Ela se afastou e permiti-me observar a decoração. Dessas vez eles se superaram, com uma decoração da cor do meu vestido e vários 16 gigantes colados nas paredes daquele salão, uma música tocava ao fundo e percebi que ela pegou meus CDs para tocarem aqui. Comecei a andar e comprimentar a todos, consciente de que ele logo adentraria.
Rodei o salão diversas vezes, porém em nenhuma delas encontrei meu pai, "Melhor para mim". Encontrei o bar e sabia exatamente o que pedir.
-Um café bem forte por favor! - "Para ver se eu acordo desse pesadelo", quando percebeu quem era, o garoto acelerou para me dar o café. Ia dar o primeiro gole quando ela surgiu.
-Senhorita, não posso permitir que você ingira cafeína!
-Aproveite a festa e me deixe em paz, vá!
-Não posso se você estiver se mal-cuidando - Parei por um instante e a observei sob as luzes multicoloridas que estavam instaladas e percebi que ela estava linda, seu cabelo loiro estava preso em um coque e seu corpo gracioso estava em um vestido jade, combinando com seus olhos, resolvi dar um pouco de paz ao coração dela e simplesmente larguei o café ali.
Retornei a rodar o salão e finalmente o vi, ele percebeu que eu o vi, mas o que ele podia fazer, se a função dele era essa? Me proteger, sem poder me perder de vista nem por um segundo. Continuamos assim até aparecer alguém para conversar novamente, pude perceber que ele se camuflou assim que essa pessoa apareceu.
Gostaria de ter sido mais forte naquele momento e ter caminhado até ele ou de ter gritado seu nome, pois ambos não podemos suportar a dor que sentimos ao encarar-nos. Estava retornando a minha busca quando a mulher que era suposta para eu chamar de mãe me puxou.
-Está na hora de fazer seu discurso querida! Vamos lá? - E foi me guiando até o palco. No meio do caminho ela adicionou - É bom não falar nada que nos manche, ouviu?
Simplesmente a dei as costas e subi, já convivi por vários anos com essa ameaças. Assim que eu me posicionei no palco acenderam um holofote na minha cara e abaixara o volume da música, deixando um eco em minha cabeça por causa dos gritos dos meus pensamentos.
-Bem, primeiramente eu gostaria de agradecer a todos que estão aqui presentes - E dei meu melhor sorriso e esperei cessarem as palmas - E segundo eu mal sei o que dizer por estar tão contente, que bom que na véspera desta data tão gostosa eu consegui escrever um pequeno texto que representa tudo que eu sinto - Peguei um pouco de fôlego e iniciei a leitura:
"Minha vida, sempre envolta de mistérios, nunca se clareia,
está sempre enevoada, porém de repente chegou você, uma
luz temporária que eu não gostaria que se apagasse, porém
com o tempo você se vai e eu fico presa aos mistérios.
Garoto misterioso, é você que me chama alguns dias, porém,
eu sei, você não gosta de mim, não do jeito que eu de você.
Apenas peço-lhe, seja minha luz nessa névoa"
Assim que eu acabei, todos aplaudiram e pude ver um par de orbes castanhas-escuras me encarando tristemente, como se pedissem desculpas. Tratei de desviar o olhar o mais cedo possível, porém aquele pequeno contato foi o suficiente para abrir o machucado dentro do meu coração.
Desci o mais rápido possível e ninguém contrariou meu ato, só pude ouvir aplausos que foram bloqueados pela música. Rapidamente encontrei um canto, e lá desatei a chorar, e eu sabia que ele observava tudo, porém não se aproximava.
Não percebi quando foi que eu havia me sentado, porém fiquei grata, senão teriam me encontrado. Fazia muito frio naquele salão e eu tremia naquele vestido, várias pessoas passavam por mim e encararam-me com desprezo, sem perceber quem era realmente, só que após um tempo, pude sentir mãos calorosas colocarem um paletó sobre meus ombros.
Não precisei nem ao menos erguer a cabeça para saber quem era. Só estava tentando cumprir sua promessa, porém quebrava seu trato.
-Doí, doí demais. Por que isso foi acontecer? - Ergui meu rosto e pude encarar sua face, que mostrava-se impassível.
-Não sei, já faz tanto tempo desde a última decaída... - Não pude evitar e soltei um gemido de dor, isso estava me matando.
-Faz parar, por favor! - Já estava ofegante e as paredes daquele prédio pareciam diminuir cada vez mais. Ele nada disse quando o encarei, somente me ergueu e retirou-me daquele lugar, trocando olhares com algumas pessoas no meio do percurso.
Não queria permitir-me sentir isso, porém não pude conter-me e inspirei seu aroma único, que me relaxava e acalmava. Seus braços gentilmente colocaram-me no chão e após um tempo ali parados, nos encaramos e iniciamos uma caminhada.
Quando atingimos nosso destino, ambos deixamos escapar sorrisos tristonhos ao recordarmos dos momentos que passamos ali. Ainda estava chorando e ainda ofegava um pouco, porém agimos como se isso não fosse nada,
-H, vamos nadar? - Encarei-o e suas orbes brilhavam e continham o reflexo daquele belo cenário que cercava-nos, com uma pontinha de melancolia lá no meio.
-L, você fez escova - Ele disse e alisou meus cabelos e manteve o carinho ali - E olhe - Com sua mão livre ele apontou o crepúsculo - Esse não é um horário recomendado para nadar, muito menos em lagoas.
-Por favor, vai! Deixa, eu prometo não molhar o cabelo, porque eu sei o quanto o H gosta dele longo e desembaraçado, ele diz que assim fica melhor para passar a mão... - Sabia que falar dele na terceira pessoa era seu fraco e pude ouvi-lo suspirar.
-Você trouxe seu biquíni L?
-Nunca esqueceria - Deu um sorriso fraco com lágrimas ainda descendo por meus olhos. Peguei nossa mochila que ficava guardada lá e entreguei-lhe seu short e a toalha - Me esconda - E assim ele o fez, e eu sei que ele não ousou espiar.
Sentei na borda esperando-no e pude sentir mãos envolvendo meus cabelos e começaram a trançá-los e logo após fizeram um coque de modo hábil. No momento que meus cabelos deixaram minha nuca senti seus lábios contra minha nuca e deixei escapar um suspiro quando eles saíram de lá.
Seus braços, que momentaneamente posicionaram-se entrelaçados na minha cintura, deixaram uma sensação de vazio quando saíram e não pude fazer nada senão tremer diante daquele frio que fora deixado lá.
Entramos na água fria, porém sem importarmos, só de estarmos lá, no berço das nossas memórias, era suficiente. Encarei meu reflexo na água e percebi que meu lábio estava roxo e eu tremia mais do que estava tremendo lá dentro.
Encostei minhas costas na borda e afundei-me até o pescoço, tomando cuidado para não molhar o cabelo. Fiquei encarando o reflexo do céu que começava a aparecer estrelas e senti que ele me observava. Ousei espiar pela água e suas feições expressavam a mais genuína preocupação.
Meu coração apertou e sem poder conter-me levantei rapidamente e encarei-o. Perdi-me momentaneamente observando porém comecei a cair lentamente, mas antes que algo acontecesse ele me segurou e percebeu o quão fria estava.
-L, saia do lago, agora - Sua feição era dura, porém seus olhos mostravam preocupação.
-N-Nã-Não - Minha voz saiu fraca e tremida por causa do frio que eu sentia. Meus olhos ardiam com novas lágrimas que deslizaram cedo demais para o meu gosto, causando um choque contra minha pele fria.
-L, por que você não quer sair? - Ele se aproximava lentamente, como se estivesse se aproximando de um animal silvestre, que poderia fugir a qualquer momento.
-V-Vo-Você n-nem a-ao me-menos se pre-preocu-preocupa co-comi-comigo - Encarei aquelas orbes e pude sentir como se eu tivesse o obrigado a ultrapassar seus limites.
-Não coloque palavras na minha boca - Sussurrou quando me abraçou. Eu tentava lutar contra, porém estava muito fraca e o calor que ele me passava me enchia cada vez mais. Permiti-me ser fraca aquela vez e deixei-me cair em seus braços, chorando mais e voltando a ofegar um pouco.
Ele me colocou na beirada e posicionou-se ao meu lado. Apoiei minha cabeça em seu ombro, ambos estávamos cientes do quão errado isso era, mas não podíamos lutar. Ele puxou meu queixo e obrigou-me a encarar aquelas hipnóticas orbes castanho-escuro.
Fechei meus olhos, na esperança que fizesse durar mais ou que fosse mais especial, porém foi igual a todas outras vezes. Nossos lábios colaram-se e iniciaram algo somente nosso, mas que foi rapidamente, ou rápido demais para meu gosto, encerrado e separaram-se.
Eu não aguentava mais isso, minhas recaídas somente ocorriam por causa disso, por que ele me deixava assim. Meu peito ardia e as lágrimas corriam livremente pelo meu rosto. Percebi hesitação em seu olhar e aproveitei para erguer-me, ainda que eu continuasse fraca.
-Por quê? - Sussurrei e ele inclinou a cabeça na intenção de me escutar, então repeti, desta vez gritando - Por quê?!
-O que L? Que foi? - Sua feição tornou a ser indiferente enquanto eu desabava na sua frente.
-Você não gosta de mim? - Perguntei em meio às lágrimas, percebi que ele hesitou antes de responder.
-Não - Pude ouvir meu coração partir, estava com muito frio então soltei o cabelo para esquentar um pouco.
-Não o deixa triste ver-me assim? - Novamente, hesitação.
-Não.
-Você não fica triste de só poder observar e nunca se aproximar? Não fica triste de sempre ver-me somente de costas?
-Não - Dessa vez ele não hesitou, e nem eu, o dei as costas e a passadas decididas comecei a sair de lá, porém ele abraçou por trás de modo que eu não conseguiria dar nenhum passo. Senti que ele mexeu meu cabelo deixando parte de meu pescoço exposto, e no mesmo lugar começou a depositar beijos, lambidas e leves mordidas, entre eles, dizia:
-Eu não fico triste de não poder me aproximar, sinto que minha vida não tem mais sentido e não vale mais a pena - Passou a apertar minha cintura e depositou mais beijos, lambidas e mordidas fracas.
-Eu não fico triste ao ver-te assim, parte de mim morre ao vê-la assim - Ele parou com os beijos, as lambidas e as mordidas, virou-me e me forçou a encará-lo - E eu não gosto de você, eu a amo - E me beijo, só que esse beijo expressou tudo o que sentíamos dentro daquela perigosa paixão proibida. Quando finalmente paramos para respirar ele retornou ao meu pescoço.
-Completos opostos como nós não devemos fazer coisas assim, você é meu protetor, meu guardião, e eu sou sua protegida, isso está errado - Ele ergueu a cabeça e encarou-me.
-Se você não quiser, para-me. - E prensou-me contra uma árvore e tornou à atacar meu pescoço, ficamos trocando carícias até o amanhecer, sabendo que a chegada do sol representava o fim de nosso tempo juntos.
Unimos nosso lábios em um último beijo e pude lembrar que meu oposto era o único que fazia-me sentir que era amada. E nos separamos, sabendo que isso se repetiria no futuro e com uma dor imensa no coração, carregada no nosso olhar.
Desci o mais rápido possível e ninguém contrariou meu ato, só pude ouvir aplausos que foram bloqueados pela música. Rapidamente encontrei um canto, e lá desatei a chorar, e eu sabia que ele observava tudo, porém não se aproximava.
Não percebi quando foi que eu havia me sentado, porém fiquei grata, senão teriam me encontrado. Fazia muito frio naquele salão e eu tremia naquele vestido, várias pessoas passavam por mim e encararam-me com desprezo, sem perceber quem era realmente, só que após um tempo, pude sentir mãos calorosas colocarem um paletó sobre meus ombros.
Não precisei nem ao menos erguer a cabeça para saber quem era. Só estava tentando cumprir sua promessa, porém quebrava seu trato.
-Doí, doí demais. Por que isso foi acontecer? - Ergui meu rosto e pude encarar sua face, que mostrava-se impassível.
-Não sei, já faz tanto tempo desde a última decaída... - Não pude evitar e soltei um gemido de dor, isso estava me matando.
-Faz parar, por favor! - Já estava ofegante e as paredes daquele prédio pareciam diminuir cada vez mais. Ele nada disse quando o encarei, somente me ergueu e retirou-me daquele lugar, trocando olhares com algumas pessoas no meio do percurso.
Não queria permitir-me sentir isso, porém não pude conter-me e inspirei seu aroma único, que me relaxava e acalmava. Seus braços gentilmente colocaram-me no chão e após um tempo ali parados, nos encaramos e iniciamos uma caminhada.
Quando atingimos nosso destino, ambos deixamos escapar sorrisos tristonhos ao recordarmos dos momentos que passamos ali. Ainda estava chorando e ainda ofegava um pouco, porém agimos como se isso não fosse nada,
-H, vamos nadar? - Encarei-o e suas orbes brilhavam e continham o reflexo daquele belo cenário que cercava-nos, com uma pontinha de melancolia lá no meio.
-L, você fez escova - Ele disse e alisou meus cabelos e manteve o carinho ali - E olhe - Com sua mão livre ele apontou o crepúsculo - Esse não é um horário recomendado para nadar, muito menos em lagoas.
-Por favor, vai! Deixa, eu prometo não molhar o cabelo, porque eu sei o quanto o H gosta dele longo e desembaraçado, ele diz que assim fica melhor para passar a mão... - Sabia que falar dele na terceira pessoa era seu fraco e pude ouvi-lo suspirar.
-Você trouxe seu biquíni L?
-Nunca esqueceria - Deu um sorriso fraco com lágrimas ainda descendo por meus olhos. Peguei nossa mochila que ficava guardada lá e entreguei-lhe seu short e a toalha - Me esconda - E assim ele o fez, e eu sei que ele não ousou espiar.
Sentei na borda esperando-no e pude sentir mãos envolvendo meus cabelos e começaram a trançá-los e logo após fizeram um coque de modo hábil. No momento que meus cabelos deixaram minha nuca senti seus lábios contra minha nuca e deixei escapar um suspiro quando eles saíram de lá.
Seus braços, que momentaneamente posicionaram-se entrelaçados na minha cintura, deixaram uma sensação de vazio quando saíram e não pude fazer nada senão tremer diante daquele frio que fora deixado lá.
Entramos na água fria, porém sem importarmos, só de estarmos lá, no berço das nossas memórias, era suficiente. Encarei meu reflexo na água e percebi que meu lábio estava roxo e eu tremia mais do que estava tremendo lá dentro.
Encostei minhas costas na borda e afundei-me até o pescoço, tomando cuidado para não molhar o cabelo. Fiquei encarando o reflexo do céu que começava a aparecer estrelas e senti que ele me observava. Ousei espiar pela água e suas feições expressavam a mais genuína preocupação.
Meu coração apertou e sem poder conter-me levantei rapidamente e encarei-o. Perdi-me momentaneamente observando porém comecei a cair lentamente, mas antes que algo acontecesse ele me segurou e percebeu o quão fria estava.
-L, saia do lago, agora - Sua feição era dura, porém seus olhos mostravam preocupação.
-N-Nã-Não - Minha voz saiu fraca e tremida por causa do frio que eu sentia. Meus olhos ardiam com novas lágrimas que deslizaram cedo demais para o meu gosto, causando um choque contra minha pele fria.
-L, por que você não quer sair? - Ele se aproximava lentamente, como se estivesse se aproximando de um animal silvestre, que poderia fugir a qualquer momento.
-V-Vo-Você n-nem a-ao me-menos se pre-preocu-preocupa co-comi-comigo - Encarei aquelas orbes e pude sentir como se eu tivesse o obrigado a ultrapassar seus limites.
-Não coloque palavras na minha boca - Sussurrou quando me abraçou. Eu tentava lutar contra, porém estava muito fraca e o calor que ele me passava me enchia cada vez mais. Permiti-me ser fraca aquela vez e deixei-me cair em seus braços, chorando mais e voltando a ofegar um pouco.
Ele me colocou na beirada e posicionou-se ao meu lado. Apoiei minha cabeça em seu ombro, ambos estávamos cientes do quão errado isso era, mas não podíamos lutar. Ele puxou meu queixo e obrigou-me a encarar aquelas hipnóticas orbes castanho-escuro.
Fechei meus olhos, na esperança que fizesse durar mais ou que fosse mais especial, porém foi igual a todas outras vezes. Nossos lábios colaram-se e iniciaram algo somente nosso, mas que foi rapidamente, ou rápido demais para meu gosto, encerrado e separaram-se.
Eu não aguentava mais isso, minhas recaídas somente ocorriam por causa disso, por que ele me deixava assim. Meu peito ardia e as lágrimas corriam livremente pelo meu rosto. Percebi hesitação em seu olhar e aproveitei para erguer-me, ainda que eu continuasse fraca.
-Por quê? - Sussurrei e ele inclinou a cabeça na intenção de me escutar, então repeti, desta vez gritando - Por quê?!
-O que L? Que foi? - Sua feição tornou a ser indiferente enquanto eu desabava na sua frente.
-Você não gosta de mim? - Perguntei em meio às lágrimas, percebi que ele hesitou antes de responder.
-Não - Pude ouvir meu coração partir, estava com muito frio então soltei o cabelo para esquentar um pouco.
-Não o deixa triste ver-me assim? - Novamente, hesitação.
-Não.
-Você não fica triste de só poder observar e nunca se aproximar? Não fica triste de sempre ver-me somente de costas?
-Não - Dessa vez ele não hesitou, e nem eu, o dei as costas e a passadas decididas comecei a sair de lá, porém ele abraçou por trás de modo que eu não conseguiria dar nenhum passo. Senti que ele mexeu meu cabelo deixando parte de meu pescoço exposto, e no mesmo lugar começou a depositar beijos, lambidas e leves mordidas, entre eles, dizia:
-Eu não fico triste de não poder me aproximar, sinto que minha vida não tem mais sentido e não vale mais a pena - Passou a apertar minha cintura e depositou mais beijos, lambidas e mordidas fracas.
-Eu não fico triste ao ver-te assim, parte de mim morre ao vê-la assim - Ele parou com os beijos, as lambidas e as mordidas, virou-me e me forçou a encará-lo - E eu não gosto de você, eu a amo - E me beijo, só que esse beijo expressou tudo o que sentíamos dentro daquela perigosa paixão proibida. Quando finalmente paramos para respirar ele retornou ao meu pescoço.
-Completos opostos como nós não devemos fazer coisas assim, você é meu protetor, meu guardião, e eu sou sua protegida, isso está errado - Ele ergueu a cabeça e encarou-me.
-Se você não quiser, para-me. - E prensou-me contra uma árvore e tornou à atacar meu pescoço, ficamos trocando carícias até o amanhecer, sabendo que a chegada do sol representava o fim de nosso tempo juntos.
Unimos nosso lábios em um último beijo e pude lembrar que meu oposto era o único que fazia-me sentir que era amada. E nos separamos, sabendo que isso se repetiria no futuro e com uma dor imensa no coração, carregada no nosso olhar.
P.S.: Ela diz que eles são opostos pois seus sobrenomes são: Blanka (dela), com o significado de branco e Nigra (dele), com o significado de preto.
Blanka e Nigra de que língua?
ResponderExcluirEsperanto!
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