Observo o local que me cerca, tudo que vejo é: fumaça. Tusso por conta da fumaça, por que eles não dão uma pausa? Sento-me no bar e decido participar do jogo, olho audaciosamente e faço meu pedido:
-Seu drink mais forte e seu cigarro mais barato - Não foi bem um pedido, esta fala estava mais puxada para uma ordem, porém ele já estava acostumado com esse tipo de clientes.
Retorna rapidamente com meus pedidos, e acrescenta com certo brilho de luxúria nos olhos:
-A bebida e os cigarros, o isqueiro é por conta da casa - Simplesmente saiu pensando que aquela bebida me derrubaria.
Encarei aquele fino copo e seu conteúdo, senti-me suja por minhas ações, mas como sujar algo já negro de tanta sujeira? Peguei os cigarros e coloquei um na boca, passei um tempo somente apreciando minha ação. Retirei o isqueiro da mesa e lentamente fui dirigindo-o à boca, porém antes que eu pudesse realizar algo, o isqueiro me foi tomado e o cigarro removido de minha boca.
-Somente pessoas que se odeiam fumam - Desviei a cara, sabendo quem era, e peguei mais um cigarro teimosamente.
-E quem disse que eu não me odeio? - Pude vê-lo acender o cigarro e dar-lhe uma tragada, depois respondeu-me:
-Deixe-me colocar de outra forma: somente pessoas cheias de arrependimentos fumam - E removeu o novo cigarro da minha boca e soltou a fumaça em minha face. Tusso rapidamente e respondo-o:
-Eu não possuo nenhum arrependimento, mas isso não faz com que eu não me odeie - Tento pegar um novo cigarro, porém desta vez ele segura minha mão, obrigando-me a encará-lo.
-Já eu, arrependo-me completamente de tê-la deixado partir - Viro a cara e ignoro seu comentário anterior, mudando o ruma da conversa:
-O que faz aqui? É muito incomum vê-lo num lugar destes - Dei ênfase à minha frase apontando para o cassino às minhas costas.
-Você sabe que eu a sigo independente de onde seja - Comecei a observar a janela e pude ver um céu mais escuro que dentro daquele estabelecimento e uma chuva forte caía pesadamente, recordando-me daquele dia.
-Olhe esse clima parece até o daquele dia - Ele dizia como se sentisse rancor dos acontecimentos ocorridos, mas eu sentia orgulho das minhas atitudes, nunca voltaria atrás.
-Você fala tanto dele, deseja retornar para aqueles tempos? - Minha língua afiada o machucou novamente, porém eu sabia que ele continuaria ali mesmo, como ele sempre esteve.
-Você não teme que algum dia eu simplesmente me vá? - Encarei-o como se não entendesse - Que um dia eu simplesmente a deixe sozinha e nunca mais retorne?
-Não, pois eu sei que você é viciado em mim, e isso me causa nojo. - Com isso encerrei o papo, porém ele continuou ali, mostrando o quanto minha teoria estava certa. Ergui-me abandonando os cigarros e a bebida despejados sobre o balcão e comecei a rodar.
Um grupo de bêbados convidou-me para jogar com eles e aceitei, assim que abriram as apostas, já iniciei minhas atitudes.
-Eu coloco tudo - Os encaro e eles riem da minha atitude, nem havia olhado minhas cartas, porém eu tinha certeza.
-A gatinha não deve estar sóbria, vamos entrar no jogo. - E Assim todos entraram, rindo de meu comportamento. Acabou que meu pressentimento estava mais do que certo, ganhei o dinheiro de todos e ainda ria debochadamente, até o mais descontrolado estapear-me e dizer:
-Sua vadia barata, você roubou no jogo!
-Para que roubar neste jogo, já que estou jogando contra um bando de bêbados sem cérebro? Vocês é que não sabem jogar direito! - E cuspi em sua cara, aumentado sua ira.
-Você irá pagar por isso e por suas atitudes como a vadia barata que você é! - Ele agarrou meu braço e encarei-o desafiando-o.
-Ahn, que dó do bebum, perdeu de uma garotinha que nem olhou as cartas e agora quer vingança? Vê se cresce seu velho infantil - Simplesmente o dei uma forte joelhada no saco, peguei meu dinheiro e parti. Minha língua ataca constantemente e eu nem ligo, nunca tenho arrependimentos.
De repente ouço um soco ser desferido e viro a tempo suficiente de vê-lo acertar em cheio a cara daquele velho. Olho quem deu o soco e só podia ser ele, já que ninguém mais viria salvar-me.
-Pare com essa atitude de mau-perdedor, aceite logo que ela ganhou e se você ousar chama-lá de vadia barata mais uma vez, poderá provar outro destes - E apontou para seu punho. Logo após isso ele caminhou até mim.
-Você poderia ter sido expulso.
-Não ligo desde que aquele velho não encoste em você, e que ideia estúpida foi essa? - Ele estava preocupado, isso me provoca ânsia.
-Não brinque de se preocupar, você sabe como eu me sinto em relação à você, agora me deixe e encontre outra para se viciar.
-Mas, somente você me deixa desse jeito, inebriado a sentir seu cheiro, elétrico por seu toque e bêbado por sua voz.
-Como me cheirar se aqui só há fumantes? Como ficar elétrico por meu toque se eu te acho um doente? E como bêbado por minha voz se ela somente despeja insultos? - Eu sabia que ele tinha uma resposta para isso, porém essa resposta só me deixaria com mais nojo, então afastei-me.
Desviava das mesas de jogo com impressionante habilidade, ele por fumar e beber, não conseguia me acompanhar, então sabia que possuía a vantagem. Assim que me deparei com a porta saí para chuva e para a liberdade.
A chuva encharcou-me completamente, mas não liguei, continuei seguindo em frente até uma mão me virar, obrigando-me a encará-lo. Seu aperto em meu braço era forte o suficiente para eu não fugir, mas não o suficiente para me machucar.
-Agora você para e me escute. Por que você faz isso todas as vezes? Você não liga para você mesma?
-Eu já não o disse que eu não possuo arrependimentos? Aliás, solte-me, senão acaberei vomitando aqui, eu te desprezo. - Dei ênfase à última palavra e pude ver algo ocorrendo nele.
-Mas, mas, eu... Eu amo-te...
-Pois, eu tenho nojo de você - E saí, acreditando que ele voltaria. Ouvi algo cair e virei para trás. Ele não estava lá, a única coisa encontrada foi: cigarros. Peguei os cigarros e acendi um, virei meu olhar para trás, antes de dar uma longa tragada.
-É, você conseguiu, ensinou-me certinho isso. - E pela primeira vez na minha vida arrependi-me.
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