15 de outubro de 2014

100º Post: Pecados Pessoais

Numa curta caminhada para a casa da garota, o casal ia sem pressa, ela com seus longos cabelos negros ao vento e ele com seus curtos fios loiros dando uma reação mínima. Eles pareciam um casal feliz, caminhando de mãos dadas, mas a garota questiona com suas orbes verdes brilhando:
-Você está com frio? - Sua voz saiu meio rouca, pelo longo período de silêncio.
-Não, por que a pergunta? - O garoto mantinha seus olhos focados em seguirem adiante, nem por um momento encarou a garota.
-É que você continua de moletom... - Ela deixou a frase no ar, esperando a justificativa do outro.
-Você sabe como eu sou avoado, esqueci de colocar a camisa e agora não posso tirá-lo - Ele mentiu e ela percebeu a mentira. As palavras dele a feriram muito, pois ela não queria duvidar dele, mas estava difícil.
-Como sua mãe tem passado? - Ela adoecera recentemente e a garota estava muito preocupada com a saúde tanto dela quanto com a do filho da mesma.
-Tem melhora, nenhuma recaída essa semana. E o seu pai? Como ele está? - O pai da menor havia perdido a mulher a um mês, o que mexeu profundamente com ele, o maior estava mandando uma indireta para ela, mas continuava focado em olhar para frente, sem nem mover a cabeça.
-Melhorou, eu acho... - Essa última parte saiu num sussurro que ele não ouviu, ele também não percebeu o quanto ela estava machucada, com seus olhos já marejados, ele somente prestava atenção em chegar ao destino de ambos.
-Isso é ótimo, realmente uma boa notícia... - "Ele realmente não ouviu a outra parte", pensou ela, perdendo suas esperanças de que ele ainda se importava com ela, mas ela estava decidida a não fazer cena, então saiu correndo, separando suas mãos, sabendo que se arrependeria mais tarde.
"Ela provavelmente vai acelerar par a casa dela" convenceu-se o menino, mas no mesmo momento ela fez uma curva e entrou num parquinho, tendo de segui-la, ele desviou da sua rota.
Ao entrar ele a avistou sentada no balanço observando o crepúsculo no céu. "Ela é tão linda, sentirei sua falta!" ele pensou sentindo a queimação das lágrimas nos olhos, mas negou-se a chorar, ia ficar forte por ela.
-Não é lindo, o céu a essa hora, essa conexão? - Ela esperava que o escuro escondesse as duas lágrimas que deixou cair, ela não podia chorar.
-É, mas não é tão lindo quanto você e essa conexão que temos - Ele disse ao abraçá-la pelas costas - Agora, vamos?
Ela confirmou com a cabeça e olhou uma última vez o céu, numa prece silenciosa. Retomaram seu caminho, mas agora eles não deram as mãos, nem ao menos trocaram palavras até atingirem seu destino.
Ao chegarem, ela tomou a dianteira e abriu a porta.
-Pai? Pai, o senhor está aqui? - Silêncio, essa foi a resposta deles, que subiram com sorrisos cúmplices no rosto. Adentraram ao quarto da jovem e rapidamente se uniram em um beijo, desesperado, mas cheio de paixão.
Era uma sincronia entre as línguas que nada poderia quebrar, era como uma dança lenta no mais belo ritmo. Chegaram na cama, onde ele a empurrou, separando-os para retomarem o fôlego.
Ele se posicionou sobre ela e beijou seu pescoço, lá também depositou algumas mordidas e lambidas e foi traçando um trilha até seu queixo, onde lá sentiu algo mais quente no rosto dela. Tomou distância e viu que ela estava chorando.
-Ô, minha linda, não precisa fazer isso se não quiser - Ele acariciava o rosto dela delicadamente, com se ela pudesse quebrar se ele a segurasse com muita força.
-Não, eu não quero outra coisa - Ele a encarava perguntado por que - Eu não quero tomar distância de você, por favor, não se vá!
-Não, eu não irei, ficarei aqui com você - Ele sentiu com se ela tivesse lido seus planos, mas deitou-se na cama de conchinha com a garota do mesmo jeito.
Depois de um tempo, ele sentiu a respiração dela se acalmar e viu que ela já dormia, lentamente foi se erguendo e sentou na beirada da cama. A observou em paz por algum tempo e acariciou seus cabelos.
Ele havia acabado de se erguer quando viu que ela chorava. As lágrimas desciam pelo rosto dela deitado e pingavam do nariz ao travesseiro.
-Você me disse que iria ficar - Ela soltou, ainda de costas para o loiro.
-Então você sabe... - Suas orbes negras demonstravam tristeza.
-É claro, você é péssimo mentindo - Ela deu uma risada fraca e virou na direção do dono das orbes negras que a observavam com certo pesar.
-Mas você sabe que é tarde demais, não?
-Nunca se é tarde demais - Seu choro aumentou um pouco - Agora vamos, me dê seu braço, me deixe vê-los.
O loiro não disse nada, somente ergueu as mangas do moletom, fazendo a das orbes verdes chorar ainda mais, seus braços estavam envoltos em faixas, com manchas ainda recentes. Ela negava com a cabeça.
-Você não pode ir... Tem gente que precisa de você!
-Tipo quem? - Agora ele também estava chorando, não conseguiu e falhou na frente dela.
-Sua mãe precisa de você, e EU preciso de você, você não pode simplesmente agir desse jeito!
-Quer dizer que você pode mas eu não?!
-Eu nunca disse isso! - Ela gritou, assustando o loiro em sua frente - Eu nunca fiz isso, pois eu não podia fazer isso com você... - Ela sussurrou e foi surpreendida por um abraço do maior.
Foi nesse abraço que ela chorou no ombro dela e ele no dela, ambos se livrando de um fardo carregado por mais tempo do que necessário, cada um com seu pecado pessoal.

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