Eu estou no meio de um pesadelo, mas então, por que estou acordada? Sinto as lágrimas arderem em meus olhos, mas elas não saem. A visão começa a embaçar mas rapidamente volta ao normal e o vejo. Eu sou uma garota estúpida.
-Então, como vai a Hannah? - Soltei brincando, sabendo que pagaria por essas palavras.
-Quantas vezes eu tenho que lhe dizer, eu não gosto dela...- Ele parecia querer dizer algo, éramos dois então.
-Sei, sei... - Forcei um sorriso na minha cara e me obriguei a engolir o choro. Eu sou uma garota estúpida.
-Ela já gosta de alguém. - Me esforcei para não lhe dar um tapa nem derramar uma lágrima em sua frente.
-Mas... - Elevei a voz, atraindo alguns olhares na rua semi-obscurecida pelo crepúsculo - E você? Não gosta de alguém? Da Hannah, talvez... - Tive de olhar para os ladrilhos aleatoriamente encaixados na calçada.
-Você realmente vai me fazer repetir o que eu disse a alguns minutos atrás?
-Mas essa foi uma pergunta diferente - Sussurrei, o forçando a trazer sua cabeça para mais perto. Eu não podia chorar, não agora. Eu sou uma garota estúpida.
-O que... Ah, chegamos - Paramos na porta de um restaurante comum, daqueles que tem vários e a comidade é de qualidade média. Péssimo momento.
-Damas na frente - Ele abriu a porta, forcei mais um dos mil sorrisos falsos.
-Então pode passar, minha Lady - Seus cabelos mel se remexeram quando ele riu, e me empurrou para dentro, de forma tão gentil que quase o supliquei para não tirá-la, mas eu sufoquei esse sentimento junto dos outros.
-Que horas são?
-19:45, por quê?
-Nada - Logo eles chegavam, logo ela chegava, eu sabia que não demoraria muito para que esse nosso momento à sós acabar, como sempre acontece.
-Uma mesa para seis - Pude escutá-lo pedindo, mas parecia tão distante sua fala enquanto eu observava suas costas, tão belo, tão distante, perdido no passado.
-O que você quer? - Seus olhos nem ao menos encaravam os meus ao falar, mas depois dela, ele nunca mais me olhou nos olhos. Eu sou uma garota estúpida.
-Não estou com fome.. - Mentira, mas eu não quero ficar aqui, me sinto sufocada por todas as palavras que eu gostaria de falar, afogada pelas lágrimas que eu quero soltar.
-Já conversamos sobre isso - Ele ia me encarar, ele ia tomar coragem e encostar na minha mão, mas eu fui mais rápida.
-Preciso ir ao banheiro, com licença - Isso não era ao todo mentira.
Chegando lá, encontrei-o vazio. Encarei aquele reflexo malvado, aquele cabelo laranjas sem graça e aqueles olhos já vermelhos pelo choro. Devo ter demorado certo tempo, pois quando saí ele estava ao lado da porta.
-Você não voltou à aquilo, não é? - Mesmo com sua voz aflita, ele não me olhava nos olhos, não via o quanto eles estavam vermelhos e inchados.
-E se eu tiver voltado? O que você pode fazer? - Não consegui me controlar, aquela foi a gota d'água.
-Eu posso te ajudar, igual à primeira vez.
-Não, você não pode, você está ocupado demais com a Hannah - Estava me dirigindo à saída, quando ele pegou a minha mão.
-Mentira! Eu já falei que.. - Mesmo afirmando algo assim ele não me olhava nos olhos, cortei-o no meio da fala.
-Mentira digo eu! Diz que se importa comigo mas nem ao menos me olha nos olhos! Isso machuca mais do que tudo! - As lágrimas corriam e eu não tinha mais controle sobre nada - Doí o ver ao lado dela! Doí não me aproximar! Doí, tudo doí - As últimas palavras saíram num sussurro desesperado.
Percebendo que ele estava atônito, saí correndo. Não me importei com a direção, eu só corria. Acabei chegando à clareira que era nossa, mas depois ela passou a visitar. Caí e chorei, até não sobrar mais nada, mas continuei chorando.
"Eu sou uma garota estúpida! Eu sou uma garota estúpida!Eu sou uma garota estúpida! Não consigo deixar de ser uma idiota e aceitar que ele não gosta de mim! Eu sou uma garota estúpida!Eu sou uma garota estúpida!"
Sem me importar com a sujeira, deitei-me no gramado e lembrei de sua promessa: "Eu sempre a salvarei e nunca perdoarei quem a fez chorar! É uma promessa!", irônico, já que ele me faz chorar a esse ponto.
Observava as estrelas, as lágrimas correndo livremente e percebi a chegada de alguém, "Não é ele, não se anime, ele só vem para cá com ela", nem me movi.
Essa pessoa, ou melhor ele, se posicionou sobre mim, me imobilizando, no momento em que vi sua cara, comecei a me debater.
-Não, eu não a deixarei ir por uma terceira vez - Senti algo quente em minha face, algo diferente de minhas lágrimas. - Eu já a perdi duas vezes, e ambas vezes você voltou distante, eu NÃO a perderei novamente!
-Me deixe sair - Minha voz saiu tremida e baixa, mas suplicante.
-Não,se eu a deixar ir nunca me perdoarei de perdê-la novamente! Eu não suporto vê-la assim, me deixa ajudá-la!
-Igual à sua promessa? Se quer me ajudar, vá embora!
-NÃO! Eu quase morri ao ver que você estava se mutilando, eu quase morri ao vê-la pulando refeições, mas meu maior temor foi quando eu a deixei sozinha uma única vez... - Percebi que ele passou a chorar mais - Ao vê-la cair durante a aula de E.F., eu não deixei ninguém encostar em você, tão frágil.
-Me deixe sair, eu não quero ouvir, você tem à Hannah, eu já aceitei isso...
-Mas eu não, dá para você deixar de ignorar que eu não gosto dela, eu já disse isso.
-então de quem você gosta? - Falei tão baixo que ele não ouviu, repeti aos berros - Então de quem você gosta? Já que você nem me olha direito, é claro que não sou eu!
-Eu tinha medo, eu sentia que eu tinha falhado com você depois daquilo! Agora, me deixe vê-los!
-O quê?
-Seus braços! Me deixe vê-los!
-Por quê?
-Para eu ver - Ele disse isso enquanto uma lágrima descia em direção ao seu queixo - Quantas vezes você precisou de mim e eu não estava lá!
Percebi que era eu que não o olhava agora, e quando o fiz, senti o peso das minhas ações sobre ele e ele sentiu o peso das minhas. Ergui as mangas e ele chorou e me abraçou.
-Eu nunca mais estarei ausente, eu juro - E secou as minhas lágrimas para depois me envolver em uma abraço onde eu percebi, o quanto ele fez falta.
14 de outubro de 2014
A Sua Ausência
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário