~ Narração dela ~
-Você é perfeita! Até demais! - Seus cabelos pretos se remexiam a cada palavra que ele soltava com uma voz intensa, as lágrimas brilhavam em seus olhos, mas jamais caíam.
-E daí? O que você tem a ver com isso? - O local que sua mão encontrava meu braço queimava, como se ele ateasse fogo na minha pele.
-Tanto nas notas, quanto nos esportes, quanto na vida social, você é perfeita! Por quanto tempo planeja continuar com essa encenação? - Seus olhos cinzas me encaram vorazmente, transmitindo... preocupação?
-Você está com inveja de que eu sou inteligente, atlética e bonita. - Tentei soar como se estivesse confiante, mas minha voz falhou nesta mesma hora.
-Você se esforça para passar essa imagem, mas, por favor, seja você mesma! - Sua voz suplicava, seus olhos suplicavam, seu corpo inteiro suplicava a mim.
-Eu sou assim, aceite! - Passei a mão pelo longo cabelo loiro numa tentativa de tirá-lo da cara, mas ele estava grudado ao suor e à algumas lágrimas que saíram sorrateiramente.
-Não você não é! Você não quer isso! Não quer ser cercada por pessoas que a fazem sentir sozinha, nem passar madrugadas acordada treinando ou nem quer passar maquiagem para passar uma imagem diferente daquela garota.
-PARE! Eu não sou ela, nunca fui e nunca serei! Aquela garota sumiu para sempre! - Soltei minha mão e corri, até aonde não importava, só queria sair dali.
Acabei chegando na minha casa, adentrei-a sem hesitar, mas me arrependi logo após. "Não, não, de novo não", ela estavam lá, para me buscar, as sombras, a escuridão.
Corri até dar de cara com a parede, quando a atingi, aceitei que estava chorando e que eu seria pega. E lá estava ela, dito e feito. Parecia que alguém havia apagado a luz, mas eu sabia que ninguém tinha o feito.
Dentro daquela escuridão, pude ver somente as lágrimas e aonde elas caíam, não podia ver ou ouvir, só me sobrara sentir, e só havia a dor lá.
Em algum momento pude sentir algo me tocando, comecei a debater-me na mesma hora, podia ouvir palavras, mas era como se a pessoa que as estivesse falando estivesse muito longe.
O contato durou até a escuridão passar e eu poder vê-lo, e aquelas lágrimas que antes jamais caíam, agora rolavam livremente, sobre meu rosto. Dei um sorriso fraco e logo após perdi a consciência, mas pude visualizar uma luz e senti algo um pouco mais quente, na região da minha testa.
~ Narração dele ~
-Você é perfeita! Até demais! - Ela não sabia o quanto essa encenação dela machucava aqui dentro.
-E daí? O que você tem a ver com isso? - Ela sabia que eu tinha, mas não conseguia admitir. Meus olhos ardiam com lágrimas que jamais cairiam.
-Tanto nas notas, quanto nos esportes, quanto na vida social, você é perfeita! Por quanto tempo planeja continuar com essa encenação? - Encarei-a preocupadamente e não pude deixar de perceber as lágrimas que escorriam sorrateiramente por sua face.
-Você está com inveja de que eu sou inteligente, atlética e bonita. - Quase gargalhei, mas não consegui vendo a dor detrás aqueles olhos jade.
-Você se esforça para passar essa imagem, mas, por favor, seja você mesma! - Supliquei, pois não havia nada além disso para fazer.
-Eu sou assim, aceite! - A maior mentira que ela já havia contado até agora, mas essa doeu mais do que as outras.
-Não você não é! Você não quer isso! Não quer ser cercada por pessoas que a fazem sentir sozinha, nem passar madrugadas acordada treinando ou nem quer passar maquiagem para passar uma imagem diferente daquela garota.
-PARE! Eu não sou ela, nunca fui e nunca serei! Aquela garota sumiu para sempre! - Nesse momento ela se libertou de mim e saiu correndo, a segui sem hesitação.
Com ela alguns metros a minha frente, a vi adentrar a uma casa, mas eu sabia que ela não ficaria bem lá. Certo tempo após ela ter entrado, entrei.
Ela estava com as costas na parede, chorando feito uma criança que perdeu os pais, eu sabia que era a esquizo frenia dela atacando.
Agachei próximo a ela e a abracei, ela começou a gritar e se debater, mas eu me negava a soltá-la e comecei a falar coisas, baixinhas, como um sussurro.
-Calma, está tudo bem, vai passar. Estou com você, não a deixarei por motivo algum, não repetirei o mesmo erro de deixá-la ir - As lágrimas que jamais iriam cair, caíram e pude perceber que ela as viu e deu um fraco sorriso, antes de desmaiar.
Depositei um beijo em sua testa e encostei sua cabeça em meu ombro e a deixei lá, tentando controlar as lágrimas que jamis cairiam, porém cairam.
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