15 de julho de 2014

O Diário de uma Adolescente

"Será que um dia a dor irá partir?", era a pergunta que não parava de rodar a minha cabeça. Desde de que eu disse que estava melhor, desde de que eu saí do hospital, todo mundo me encara com dó e todo dia eu tenho que lutar contra o desejo de me jogar de uma ponte. 
"Será que alguém realmente se importa?", era outra pergunta que rodava na minha cabeça. Eu faço riscos todo dia no meu caderno de quanto tempo estou sem me cortar ou forçar a comida para fora ou passando a madrugada inteira malhando. Dois meses e doze dias.
"Será que irá mudar algo minha morte?", mais uma pergunta que rodava e rodava. Desde de a depressão, desde de os cortes, desde de as lágrimas, eu não consigo me desconvencer de que ninguém se importa, parece que fingem se importarem porque eu já fui parar no hospital, mas se eu tivesse sido melhor, será que eu ainda estaria assim? Três meses e quatro dias.
"Eu estou me afogando cada vez mais nas lágrimas que eu não soltei", e essa é a mais pura verdade. Faz tanto tempo, já engordei três quilos e meio, estou com nojo de mim mesma. Meus pais checam meus pulsos e braços toda semana e a minha tarefa de 'fazer' amigos está afundando cada vez mais e mais. Meus pais acham que eu talvez precise de terapia. Quatro meses e dez dias.
"Eu quero desistir, e eu já desisti, então, muito obrigado", meu caderno dado pelo psicólogo está cheio dessas frases assim, ele diz que depois que eu comecei a anotar o que eu pensava era um sinal de avanço, mas eu podia ouvir quando ele conversava com os meus pais. Meus pais estão checando os internato locais, aposto que me mandarão de volta para . Cinco meses e dois dias.
"Queridos mamãe e papai, eu agradeço por todo o trabalho de vocês e também me desculpo por ter sido alvo de bullying lá na escola e ter ficado depressiva e ter preocupado tanto vocês", essa foi a última coisa que eu vi, meu bilhete de suicídio. Eles checavam os meus pulsos e braços, isso não foi o suficiente, eles não checavam a minha barriga nem as minhas pernas. Ganhei três quilos e meio, depois que eu voltei ao peso normal, eles não se preocuparam mais, eu pulava almoço e jantar, que era quando eles não estavam em casa. Dois meses e doze dias, três meses e quatro dias, quatro meses e dez dias, cinco meses e dois dias, mentira, entre eu agora e eu antes do hospital, eu tenho o dobro de cicatrizes mais do que ela. E é assim que vai, eles dizem "Vai melhorar, é só ser forte", mas eles não sabem como é ter um desejo insano de se matar todo dia, acordar pensando "Hoje tem de ser diferente" e dormir se arrependendo de não ter se jogado em frente aquele carro.
"Filha amada e amiga querida, Descanse em paz, nós te amamos" E é assim que termina. Seis meses e dezoito dias de sofrimento para uma jovem alma agoniada e lentamente se afogando no seu próprio desespero.

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